sábado, 22 de agosto de 2009
O dia em que o rock parou - "20 anos sem RAUL SEIXAS"
Não poderia deixar de fazer uma homenagem a esse icone da nossa musica....
De toda forma, seria impossível falar de Raul Seixas sem lembrar da paranóia da morte, desde os tempos da infância, quando rabiscava em seus cadernos o medo que tinha de perder aqueles a quem amava ou quando escrevia que "a vida é um palito de fósforo que vai se queimando até se apagar para sempre". Em um pequeno bilhete lacrado, rabiscado com tinta azul, menino ainda, pediu: "só será aberto no dia que eu morrer". Para a mãe, que abriu o envelope ao lado de Sylvio Passos, presidente do Raul Rock Club, naquele 21 de agosto de 1989, Raul deixou moedas e cédulas velhas de dinheiro. Legado talvez precioso demais para suas posses de menino, porém que não chegava nem perto da herança imortal do fenômeno que ele iria se tornar. O início, o fim e o meio Junto com Waldir Serrão, que ele considerava como o primeiro rockeiro baiano, e mais alguns colegas, Seixas fundou o "Elvis Rock Club", em 1959.
Aos 16 anos, formou o primeiro grupo: os Relâmpagos do Rock. Já em 1963, tornou-se o líder do "The Panters", que passou por algumas formações e nomes, até chegar ao time com o qual lançou o 1º e único LP da banda, em 1968, seguindo os motivos do iê-iê-iê romântico do rock inglês. Acabada aquela fase do Raulzito certinho, de terno e gravata, chegava a hora de mostrar a que veio, agora com o nome de Raul Seixas. Como produtor da CBS, ele lançou o LP "Sociedade da Grã-Ordem Kavernista", com Sérgio Sampaio, Miriam Batucada e Edy Star, uma desatenção da empresa, que logo tiraria o lançamento do mercado. Era uma preparação, o começo para as críticas ao dinheiro, o desprezo pelo trabalho e outras coisitas mais. Depois, parcerias - como as de Paulo Coelho -, mil e uma músicas, pensamentos, crises e casamentos. Raul era como dizia de si: "escritor por excelência, ator por desejo e compositor por raiva". Em "Krig-há, bandolo!" (1973), já conhecíamos ali alguns dos hits do músico, como "Mosca na sopa", "Al Capone" e "Ouro de tolo", sem falar na "Metamorfose ambulante", canção com a qual diria mais tarde: "Attention, Raul, para não se alienar sendo apenas o compositor carismático que é Raul Seixas. Este é um personagem que eu já esgotei. Vide dica de Metamorfose Ambulante (que eu compus com 14 anos ou menos) dizendo ´Se hoje eu sou estrela, amanhã já se apagou´". Já nos palcos, um manifesto da Sociedade Alternativa antecipava o próximo disco, "Gita" (1974), que viria marcado por um Deus que estava em todas as coisas, levando ao público o seu conhecimento místico sobre o mundo. "Mas eu sou o amargo da língua/ a mãe, o pai e o avô/ o filho que ainda não veio/ o início, o fim e o meio". Como bem lembrou Paulo Coelho, em entrevista de 1976: "Ambos tínhamos uma porção de coisas guardadas na cuca e sentíamos a necessidade de botá-las para fora". Alternativa "Faz o que tu queres há de ser tudo da lei", "todo homem e toda uma mulher é uma estrela", as frases que hoje nos lembram Raul, com todo aquele profetismo de quem acreditava numa plena felicidade humana, vieram de sua curiosidade mística. As leituras do Bhagavad-Gita e do Book of the Law, de Aleister Crowley, lhe estimularam a anunciar: "(...) foi comprado um terreno pela Sociedade Alternativa em Paraíba do Sul, onde construiremos ´A Cidade das Estrelas´(...)". Se nada foi concretizado materialmente, sempre uma nova revolução estava no ar, nas letras de suas músicas. Em "S.O.S", por exemplo, o baiano demonstrava sua descrença com relação à humanidade, essas "formigas que trafegam sem porquê", sem tempo para pensar. Para ele, que a todo momento provava seu brilhantismo intelectual, somente o moço do disco voador poderia lhe tirar daquele universo restrito. Em "O Rebu" (1974), disco para trilha sonora de uma novela, Paulo Coelho e Raul cantavam que "a formiga só trabalha porque não sabe cantar", uma revolução do ponto de vista social para a época - plena ditadura militar. As frases bem irônicas do tipo "se subiu, tem que descer" mostravam toda a inquietação de Raul Seixas e a crença de que sempre há uma maneira de enxergar a verdade: "Quem não tem colírio usa óculos escuros". Convencido de que "cada um é o que sente ser e isso é imutável no homem", o baiano tinha naquele momento uma nova visão da Sociedade Alternativa. O disco "Novo Aeon" (1975) vinha repleto de um novo paradigma: o direito de se fazer o que se tem vontade. "Toda espécie de agrupamento na vida é uma tentativa de fortalecimento, necessidade de amparo. Medo de saber que é lindo ser diferente de todos os demais".
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