terça-feira, 4 de agosto de 2009

SONHOS ROUBADOS

Neste século 21 será que as pessoas ainda sonham? Os mais velhos ainda têm lembranças boas de quando eram jovens das décadas de 50, 60 e 70 do século passado e lutavam para transformar o mundo. A época era da Revolução de Fidel e de Che Guevara, época dos festivais de música, do tropicalismo, do cinema de Glauber Rocha. Época dos Beatles, do John Lennon e sua Imagine.

E hoje? Com o que os jovens de hoje sonham? A geração dessas décadas acima discriminadas tinha muita coisa pela qual lutar. Lutou! Conseguiu mudanças. Se ela perdeu ou venceu, não importa. Possuía ideais amplos e convergentes. Conseguiu em sua luta transformar os arcaicos costumes sociais. Liberar a mulher para exercer vida própria. Disse não a uma ditadura cruel e desumana. Alimentou a cultura mundial com novos ícones, novas leituras, novos rumos.

Não existia celular. Não existiam shopping centers. Não existiam seitas religiosas universais que fanatizassem a mente do homem e comercializassem o nome do divino para locupletar de dinheiro os bolsos dos pregadores. O neoliberalismo e a globalização cuidaram de acabar com os sonhos. Os jovens de hoje sonham, é claro. Mas sonham com riqueza, beleza, poder. Sonham consumir produtos caros. A palavra solidariedade desapareceu da linguagem da juventude atual.

Filhos de pais de uma época revolucionária eles são. Mas seus sonhos foram roubados. Como eles irão sentir nostalgia no futuro? Seus pais sentem saudades das lutas ideológicas, dos filmes e das músicas legendárias. Os filhos irão sentir saudades daquele primeiro celular comprado numa lojinha de esquina! Os filhos, hoje, estão vivendo de uma forma tão liberal que os pais não mais conseguem acompanhá-los. Mas essa onda liberal não vem da luta, mas da mercantilização da vida.

O maior sonho de luta da geração dos anos 60 foi o socialismo. Nós, cinqüentões e sessentões de hoje sonhávamos uma sociedade livre da fome, da guerra, da exploração, da discriminação e da marginalização. Era nosso sonho de consumo. Queríamos transformar o mundo e não fazer como os fundamentalistas das religiões de hoje que só pretendem impor suas crenças a ferro e fogo. A geração dos anos 60 tinha como premissa criar uma sociedade nova. A derrubada e destruição dos governos capitalistas opressores. Jamais pensava na hegemonização religiosa ou na morte para se tornar mártir.

O capitalismo continua a ser um sistema perverso. Abusa do homem e da raça humana. Desencultura o homem ao globalizá-lo e escravizá-lo como um bicho qualquer, com o objetivo de trazer benesses a uns 100 ou pouco mais homens que se dizem donos do planeta. Nossos sonhos transformaram-se em pó. O socialismo esperado transformou-se em ditadura de partido único e os crimes contra a raça se multiplicaram.

Apenas Cuba conseguiu salvar-se desse dilema. Como bem disse o humanista Hesíodo, poeta do século IX a.C., em seu famoso texto “Os trabalhos e os dias”: “Os contraventores saquearão as cidades uns dos outros e o poder fará a lei e o pudor desaparecer.”

Os sonhos continuam sendo roubados? Não! Não existem mais sonhos. Existem mercadorias nas prateleiras. Uma mercantilização da vida que leva a violência para as ruas e para a instituição familiar. Existe imperialismo político nas grandes nações. O mundo hoje é um grande Big Brother. O Grande Irmão de George Orwell abre os braços para acolher os antisonhos, e prega a guerra e a destruição célere do planeta Terra. E propaga aos quatro cantos do mundo o dogma capitalista de que “fora do mercado não há salvação”.

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